sexta-feira, 4 de março de 2011

Comandante-fundador do Aeródromo Base 3

O Dia 7 de Fevereiro, era (é) o Dia da Unidade "AB3-Negaje"

Em 11Fev2011, cinquenta anos após ter sido o primeiro comandante – operacional – do AB3-Negaje, faleceu o coronel piloto-aviador Augusto Cândido Pinto Coelho Soares de Moura

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Fonte: Jornal TVS

 

"Comandante, a Pátria agradece para sempre os seus serviços. Adeus!". No dia 12 de Fevereiro, já no final do ofício fúnebre, a singela homenagem da Liga dos Combatentes, a cujo Núcleo de Penafiel o Coronel Soares de Moura chegou a presidir, teve a profundidade de resumir o sentimento geral perante uma figura ímpar na história de Lousada.

Falecera na manhã de sexta-feira, dia 11, com 87 anos de idade, praticamente na mesma data em que, 165 anos antes, faleceu o seu antepassado, o célebre Brigadeiro Bernardino Coelho Soares Moura, que o Coronel da Lama ajudou a perpetuar em livro e em conferências.

Augusto Cândido Pinto Coelho Soares de Moura, de seu nome completo, nasceu na Casa de Vale do Mesio, em Lagoas, a 23 de Setembro de 1923, filho do Dr. Augusto Pinto Coelho Soares de Moura e de Maria Alice de Castro Neves Pinto Garcez.

Distinguiu-se como piloto da Força Aérea, para além de, na fase mais adiantada da sua vida, se ter dedicado à escrita, à investigação da história local e à docência.

Foi condecorado com as medalhas da Cruz de Guerra (1.ª classe), de Prata de Serviços Distintos com palma (duas), de Mérito Militar (3.ª classe) comemorativa das Forças Armadas no Norte de Angola e comemorativa das expedições das Forças Armadas, em Moçambique. Foi, também, responsável pela companhia de madeiras de Cabinda. Como comandante da Base Aérea de Monte Real, recebeu o Papa Paulo VI, em 1967, quando da visita para os 50 anos das Aparições de Fátima.

Professor e escritor

Já em 1977, como professor no Colégio Eça de Queirós, em Lousada, leccionando Introdução à Economia e Inglês, granjeou o respeito e a estima de colegas e alunos (ver textos nestas páginas). Joaquim Meireles, agora radicado nas Ilhas Canárias como instrutor de condução, não esquece a influência de quem "incentivava muito os alunos", guardando ainda religiosamente o livro "A População", de Alfred Sauvy, que recebeu por ser o melhor aluno do período. Nuno Xavier, agora jurista radicado em Angra do Heroísmo, comentou: "Morreu um Mestre. Recto, seguro, sensato, organizado. Lousada está mais pobre". O Dr. Cláudio Magalhães, na altura professor de História, refere: "Reconheço no Coronel Soares de Moura o homem íntegro e exemplar e junto-me àqueles que lamentam a sua morte".

Na sua quinta da Lama, em Lodares, residência senhorial que sempre preservou com esmero, dedicou-se também à agricultura, actividade que muito prezava, tendo sido presidente do então Grémio da Lavoura de Lousada.

No entanto, foi à escrita que se devotou com enorme entusiasmo. Para além de alguns opúsculos sobre o desempenho militar no Negaje - Angola ("As Pontas da História", edição de autor, 1999) e da actividade da Liga dos Combatentes de Penafiel, publicou, em 1994, o romance "O Segundo Aviso" e a biografia de Bernardino Pinto Coelho Soares de Moura, Brigadeiro dos Reais Exércitos e Barão de Freamunde, em 1998. Já em 2009, editou, em dois volumes "Lousada Antiga", uma poderosa investigação sobre as origens e construção do território que é hoje o concelho de Lousada.

A sua intervenção cívica estendeu-se à participação nos órgãos dirigentes de várias instituições, do Lions Clube à presidência da Associação Museu-Biblioteca de Lousada.

Um percurso de vida activo e empreendedor, que motivou a Câmara de Lousada à atribuição da Medalha de Prata de Mérito Municipal em 1999.

Casou na igreja de Santo Ildefonso, no Porto, com D. Maria Luísa da Cunha Coelho, sua companheira de sempre, também ela condecorada com a Cruz Oficial da Ordem Militar de Avis (*) por actos de bravura no Negaje, em 1961.

Era pai do Dr. Francisco Soares de Moura, professor universitário, casado com a Drª Lurdes Neto Soares de Moura, e do Dr. Augusto Soares de Moura, já falecido, e avô da jovem Francisca, estudante universitária.

Após ter estado em câmara ardente na capela da Casa da Lama, onde acorreram muitos amigos e admiradores, e das exéquias na igreja de Lodares, presididas pelo pároco Padre Joaquim Maia e pelo Padre António Augusto Múrias, foi a sepultar em jazigo de família no cemitério local.

Quando a porta do jazigo foi encerrada, encerrava-se, também, o percurso de um grande lousadense e de um grande português, que, antes da passagem para a eternidade, já havia firmado um merecido lugar na história. Apesar da sua discrição.

Luís Ângelo Fernandes

 

(*) - sublinhado nosso - informação de Rui Santos Vargas:

"A notícia do falecimento do Cor Pilav Soares de Moura refere que a esposa foi condecorada com o grau de Oficial da Ordem Militar de Avis. Estranhei por que esta Ordem é restrita a oficiais das Forças Armadas e GNR.

A D. Maria Luísa Soares de Moura foi sim condecorada a 18.11.1961 com o grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo.

Esta informação pode ser confirmada no site da Chancelaria das Ordens Honoríficas que tem uma base de dados consultável on-line"

 

 

O Comandante do AB3, Augusto Soares de Moura e Esposa, no Hotel Avenida, em 1961

Imagem cedida por Victor Elias, ex- Furriel da FAP

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